
É no Egito que, de certa forma, começamos a estabelecer o conceito mais antigo de Mistérios Antigos que vieram a influenciar as Ordens Iniciáticas em determinadas épocas como o Iluminismo e, logo em seguida, o Pós Iluminismo.
Historicamente falando, existiram Escolas de Mistério mais antigas do que a do Egito, mas alguns fatores fizeram com que esses mistérios mais antigos não fossem de influência tão grande como o dos egípcios.
Um dos motivos é pelo fato de que não se tinham muitos dados sobre esses outros mistérios na época em que as Ordens Iniciáticas Europeias começaram a se desenvolver. E o que se tinha parece não ter tido tanto apelo assim. Já o Antigo Egito, passou a ser mais popular (juntamente com algumas outras Escolas que falaremos em outros Posts) após o período do Renascimento, que foi o Período onde se teve uma “busca pelo conhecimento do passado”.
Essa volta ao passado fez com que o conhecimento de antigamente se tornasse algo especial e importante para os novos movimentos que surgiram a partir dessa época.
Uma dessas influências é a ideia dos Símbolos (que foi bastante trabalhada através dos Hieróglifos Egípcios) e a outra foi a ideia dos Rituais/Cerimonias (que teve forte influência das Cerimônias Fúnebres e dos Mistérios de Osíris).
Hieróglifos
Os Hieróglifos foram uma mistura de símbolos e grafia do Egito e que até hoje servem como bons exemplos de símbolos e de suas influências, principalmente quando precisamos explicar qual é a proposta de um símbolo – que é o de reunir e apresentar um conjunto de ideias através de uma imagem que possa representar tudo aquilo.
Os hieróglifos são realmente importantes como exemplo porque eles nos permitem avaliar a ideia de um símbolo de forma muito metódica.
O processo de criação de um símbolo não se dá quando você pensa em criar um símbolo para só depois dar um significado a ele (ou, pelo menos, não deveria ser assim). O símbolo surge da necessidade de uma representação que se dará de forma emblemática.
É por isso, inclusive, que os hieróglifos não podem ser entendidos APENAS como símbolos, pois muitos deles tinham características fonéticas (que é o que nos mostra que tratam-se também de grafia). Ou seja, eram símbolos que também expressavam sons específicos de acordo com determinada representação.
Essa mesma cultura de símbolos (dos hieróglifos) influenciou também os números egípcios, onde podemos ver os números sendo representados por símbolos que continham ideias que pudessem representar aquela grande quantidade que aqueles números representavam. Como exemplo temos o número 1.000.000, cujo desenho era o de uma pessoa em adoração/veneração aos deuses (que eram os Senhores que governavam todas as pessoas). Da mesma forma que o 100.000 era representado por um sapo (que era um símbolo de fertilidade para eles) e o 10.000 era representado pelo dedo do faraó, por simbolizar o poder.
Cerimônias
Quanto aos Rituais de Cerimônias Fúnebres terem influenciado as cerimônias da Maçonaria (e de outras Ordens Iniciáticas), cabe aqui uma explicação anterior.
Os motivos mais prováveis para que cerimônias tenham sido implantadas na Maçonaria é o fato de que elas já existiam na igreja católica e ter essas cerimônias na Ordem fazia com que o membro tivesse melhor identificação com a mesma.
Entretanto, esse era apenas o motivo para existirem essas cerimônias, mas o processo e o objetivo principal delas (principalmente no que tange a Iniciação) não tinham os mesmos princípios e objetivos cristãos.
Para os mais familiarizados com o tema Iniciação (seja com relação à Maçonaria ou a quaisquer outras Ordens Iniciáticas) não é nenhuma novidade que o objetivo do processo de iniciação é apresentar um novo mundo ao novo membro da Ordem, através do processo (simbólico, obviamente) do renascimento.
O iniciado estaria morrendo para renascer em um novo mundo com uma representação simbólica da sua morte e renascimento (como as folhas que caem no Outono e renascem na Primavera).
É aqui que passamos a ver algumas características dessas cerimônias egípcias na Maçonaria (lembrando que a Maçonaria tem vários Ritos e Rituais e, devido a isso, as cerimônias de iniciação são diferentes umas das outras – mas apenas em “forma” e não em “essência”).
As cerimônias fúnebres foram consideradas muito importantes, dentre todas as cerimônias egípcias, porque sendo a vida o maior bem que todos nós temos, o entendimento da morte, naturalmente, passa a ser extremamente crucial.
Juntamente a ela, também existiu uma outra cerimônia importantíssima, e que também tinha relação com a morte e que foi importante (principalmente como referencial) para diversas ordens e movimentos iniciáticos futuros, que foram as cerimônias dos Mitos de Osíris, também conhecidos como os Mistérios de Osíris.
Mistérios de Osíris
Essa cerimônia, comemorada periodicamente no Antigo Egito (após, obviamente, o mito de Osíris ficar mais difundido), consistia em contar a história de Osíris e apresentar a história do seu “renascimento”.
Na história de Osíris, ele foi um grande governador do Egito (?) que foi traído e morto por seu irmão Seth. Existem muito mais do que apenas uma versão dessa história (acerca de como esses eventos se desenrolaram), portanto, vou me limitar apenas a colocar a ideia principal desse evento (que foi a traição de Seth) e a busca de Isis (sua esposa) pelo corpo do marido.
Nos contos (que também divergem), após o corpo de Osíris ter sido esquartejado e espalhado pelo Egito, Isis vai atrás desses pedaços para conseguir reunir o corpo de Osíris.
O processo de juntar os pedaços do corpo (na tentativa de reconstruí-lo) para que Isis pudesse ressuscitá-lo (e daí ter uma relação sexual com ele) é considerado por muitos como a primeira mumificação (lembrando que estamos falando de um mito, é claro).
Entretanto, após o ocorrido, Osíris passa a reinar apenas no plano dos mortos (enquanto é vingado por seu filho Hórus, na terra).
Esse processo da mumificação (das cerimônias fúnebres, que colocavam o corpo em um “caixão” para que no futuro pudesse ressuscitar) e a ressurreição de Osíris (que que foi outra forma de superar a morte) foram grandes influenciadores da ideia principal de morte e renascimento que viria a ser reproduzido por inúmeras culturas posteriores, mesmo antes das Ordens Iniciáticas (e tenho certeza que você consegue pensar em algumas religiões aqui), mas que passou a ser muito importante dentro delas, já que esse é o caráter da esmagadora maioria dos procedimentos de iniciação que temos nas Ordens hoje em dia.
A Tradição e os Mistérios Egípcios
Eu usei como referência essas duas questões (dos hieróglifos e do mito de osíris) por serem questões muito evidentes e impactantes nos movimentos iniciáticos que surgiram após a Queda da Idade Média, no entanto, isso não quer dizer que essas questões tiveram influência diretamente do Egito Antigo até chegar nessas Ordens (como também não quer dizer que o Egito foi a primeira civilização a ter essas referências).
O que acontece é que, desde o advento do Renascimento, voltou-se a olhar esse passado pré-cristão e passou-se a buscar nele questões místicas que pudessem ser aplicadas e representadas na época em que se estava vivendo. Dessa forma, mesmo que o fator mais determinante para ter existido cerimônias na Maçonaria tenha sido o fato (já citado) de, por já existirem cerimônias na Igreja Católica Romana isso ter facilitado a aceitação e o trabalho por parte daqueles que viriam a se tornar maçons, o que esses maçons buscavam para dar essas explicações, de acordo com que a Ordem ia se desenvolvendo, eram as explicações acerca dos Mistérios Antigos.
Dessa forma, muitas coisas dentro da Ordem passaram a ser creditadas aos Mistérios Antigos (para que a Ordem pudesse ter um “ar de antiguidade” que parece sempre dar mais prestígio) e outras foram realmente inseridas em um determinado Ritual por ser um Símbolo Antigo e que faria referência direta a esses Mistérios (o que, naturalmente, acabava gerando – por alguns – a ideia de que a Ordem teve origem naqueles tempos longínquos, quando na verdade era só uma referência a uma tradição do passado).
Alguns não veem isso como um problema no sentido de “não poder afirmar que só existem cerimônias na Maçonaria por terem existido essas antigas cerimônias do passado”, já que a própria Igreja Católica também se baseou em cerimônias antigas para organizar suas próprias cerimônias. Ou seja, se existem cerimônias na Maçonaria devido ao fato de existirem na Igreja Católica, mas as cerimônias da Igreja Católica existem devido a cerimônias mais antigas, por que não se poderia afirmar que só existem cerimônias na Maçonaria porque antes existiram cerimônias na antiguidade? Mas isso fica a critério de cada um…
Portanto, e voltando ao foco, não há influência direta dos Mistérios Egípcios na Maçonaria (como também não há com relação aos Templários e diversas outras instituições, como sempre friso). Entretanto, não se pode ignorar que muitos símbolos, mitos e procedimentos foram adotados baseando-se nos Mistérios Egípcios e, mesmo os que não foram – mas que são encontrados nos Rituais – podem ser tomados como parte da Tradição Maçônica.
Em outras palavras, pode até não existir uma relação direta que ligue a Maçonaria aos Mistérios Egípcios, mas se eles (os Mistérios Egípcios) foram um influenciador para várias coisas que existem na Ordem (incluindo muitas histórias que aparecem nos Rituais), é importante entendermos um pouco dele no estudo da “História e da Tradição da Franco-Maçonaria”.
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