A imortalidade através do gelo (Revista Incrível n° 12 de julho de 1993)
Congelar, depois da morte, o corpo inteiro (ou só a cabeça), até que se descubra a cura da doença que o atingiu e, então, retornar a vida. Ficção cientifica? Não, nada disso. A criogenia (palavra derivada do grego Kryos — frio) é um campo da criobiologia (ciência que estuda as interações entre a vida e o frio) que vem crescendo a olhos vistos. Afinal, quem não quer ser ressuscitado num futuro em que talvez a morte já não exista? Só em um mês de 1992, uma empresa do ramo congelou três corpos.
Ainda não se sabe ao certo se o método realmente vai funcionar, mas babuínos e cães já foram levados a temperaturas próximas ao congelamento e conseguiram ser reanimados com sucesso (foi o caso do beagle Miles, do cientista americano Paul Segall. O cão ficou 15 minutos inanimado e se recuperou). No entanto, nenhum animal foi trazido de volta à vida depois de congelado à temperatura do nitrogênio líquido (160 graus negativos), usado no processo. INCRÍVEL responde aqui às perguntas mais importantes sobre esta polemica técnica.
Como a criogenia é feita?
Imediatamente após o atestado de óbito dado pelos médico, o paciente é colocado em um coração-pulmão artificial para impedir a formação de coágulos de sangue. Depois disso, seu sangue é retirado e substituído por uma solução de glicose para não se formem cristais de gelo e as células não sejam danificadas. Ao mesmo tempo, a temperatura do paciente é reduzida o mais rapidamente possível. É igualada à temperatura do gelo seco e, em seguida, o individuo é transferido para cilindros (os chamados dewars) contendo nitrogênio líquido a 160°C negativos. Nessa temperatura, nenhuma ameaça biológica acontece e a pessoa poderá permanecer inalterada por centenas de anos.
Como foram as experiências com animais e qual a evidência real de que a morte poderá ser revertida?
Na década de 50, o cientista britânico Audrey Smith consegui reviver alguns hamsters cujos cérebros e corpos haviam sido praticamente congelados. Já na década de 60, Isamu Suda, pesquisador do Departamento de Fisiologia da Universidade Kobe (Japão) congelou somente alguns cérebros de gatos a baixíssimas temperaturas e os guardou por muitos messes assim. Depois, eles foram reanimados até o ponto em que as ondas cerebrais espontaneamente voltaram a funcionar. Há 50 anos, quando o coração parava de bater, o paciente era declarado morto. Hoje ele pode ser reanimado com métodos modernos e a definição de morte mudou. Assim, pesquisadores que acreditam na criogenia sustentam a esperança de que no futuro existirão meios de reviver pessoas mortas e para isso são tomadas medidas para preservar a estrutura e química do cérebro antes de o indivíduo ser congelado.
E a memória? Sabe-se que, se o cérebro humano ficar um minuto sem oxigênio, sofre danos irreversíveis. Ela poderá ser realmente preservada?
Cientistas tem quase certeza de que as lembranças são armazenadas de duas formas: ou como vínculo entre as células cerebrais ou como química dentro desse órgão. Parece potencialmente certo que esses elos são mantidos quando a pessoa é congelada e para isso, alguns pesquisadores estão tentando verificar a veracidade dessa afirmação.
Podem ocorrer danos no processo de congelamento? Como isso pode ser revertido?
Quando a água que existe entre as células se transforma em gelo, ele esmaga as células e tendem a perfura-las. Existem pesquisas sendo feitas para prevenir isso, mas, se acontecer hoje, nada poderá ser feito ainda. A esperança está na tecnologia microscópica com a concepção de máquinas de tamanhos moleculares como as citadas no livro de Eric Drexler. Segundo o escritor, em algumas décadas será possível construir um robô microscópico equipado com um computador de bordo e braços manipuladores, pequeno o suficiente para ser injetado na corrente sangüínea. Ele poderia se multiplicarr para ir de célula em célula, reparando-as.
O que nos faz pensar que as pessoas do futuro vão se preocupar em reviver as que estão congeladas?
As organizações criônicas têm obrigação contratual de reviver seus clientes, assim como é provável que as pessoas no futuro tenham a curiosidade de conhecer as que viveram no passado.
Se as pessoas resolverem evitar a morte, não poderá haver uma superpopulação no futuro?
É possível que nos próximos cem anos os cientistas aprendam como parar o processo de envelhecimento e isso causar uma revolução social. Os governos tenderão a controlar o tamanho das famílias ou mesmo os casais decidirão voluntariamente não ter filhos para preservar sua qualidade de vida. Uma outra possibilidade inclui a expansão da vida para a lua e outros planetas.
A criogenia é legal?
Ela é ilegal na Colúmbia Britânica (Canadá) e o Estado da Califórnia abriu um processo nesse sentido, mas foi derrotado. Nos Estados Unidos, é perfeitamente legal, desde que seja feita após a morte da pessoa.
Entre as personalidades que supõe-se tenham sido congeladas, estão o excêntrico milionário Howard Hughes e Walt Disney.
Nota: vejam Robert C.W. Ettinger (o pai da hibernação); Thomas Donaldson (setembro de 1990); Cryonics e a Alcor Life Extension Foundation.
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